Um
psicólogo italiano descobriu uma forma de induzir um estado alterado de
consciência sem o uso de nenhuma substância. Tudo o que é preciso fazer é
encarar os olhos de alguém durante cerca de 10 longos minutos.
A
experiência, realizada por Giovanni Caputo, psicólogo da Universidade de
Urbino, na Itália, envolveu 40 adultos jovens, e o estudo foi publicado na
revista Psychiatry Research.
Segundo
o psicólogo, o procedimento pode provocar experiências “fora do corpo” e causar
alucinações, nas quais as pessoas podem ver monstros, parentes ou mesmo ver-se
a si próprias no rosto do seu parceiro.
20
dos participantes, agrupados aos pares, sentaram-se numa sala mal iluminada em
frente um do outro, a um metro de distância, e tiveram que olhar nos olhos do
seu parceiro, durante 10 minutos sem parar.
A
iluminação do quarto era clara o suficiente para os voluntários verem
facilmente as características faciais de seu parceiro, mas escura o suficiente
para diminuir a sua percepção geral de cores.
Num
grupo de controlo, 20 voluntários foram colocados aos pares, também numa sala
mal iluminada, e convidados a sentar-se de costas um para o outro, a olhar
fixamente para uma parede branca, durante 10 minutos.
Os
investigadores disseram aos voluntários que o estudo tinha a ver com uma
“experiência meditativa com os olhos abertos”.
Estados
dissociativos :
Ao
fim dos 10 minutos de “olhar fixo”, os voluntários foram convidados a preencher
dois questionários relacionados com o que tinham experimentado durante e após a
experiência.
Um
questionário centrou-se sobre os sintomas dissociativos que os voluntários
pudessem ter experimentado, e outro sobre o que tinham visto no rosto do seu
parceiro ou percebido acerca do seu próprio rosto.
A
dissociação é um termo usado na psicologia para descrever toda uma gama de
experiências em que uma pessoa se sente separada do seu meio próximo.
Diversos
sintomas como perda de memória, ver as coisas com cores distorcidas ou ter a
sensação de que o mundo não é real podem ser causados por abusos, traumas,
substâncias psico-activas, e drogas como a quetamina, álcool e LSD.
Aparentemente,
olhar fixamente nos olhos de outra pessoa também faz parte da lista.
Segundo
Caputo, o grupo em que os pares estiveram a olhar-se fixamente obteve, nos
questionários, pontuações maiores que o grupo de controle, o que sugere que a
experiência teve um efeito profundo sobre a sua percepção visual e estado
mental.
No
teste de estados dissociativos, o grupo que olhou nos olhos do parceiro teve
valores mais elevados para aspectos relacionados com a intensidade de cor, sons
mais calmos ou mais altos do que o esperado, sensação de distracção e de que o
tempo parece arrastar-se.
Além
disso, 90% dos membros do grupo disseram que tinham visto traços faciais
deformados.
75%
disseram ter visto um monstro, 50% disseram que viram aspectos do seu próprio
rosto no rosto do parceiro, e 15% disseram que tinham visto um parente no rosto
do seu parceiro.
Este
não é o primeiro estudo que Caputo faz.
Em
2010, o psicólogo italiano realizou uma experiência semelhante, com 50
voluntários que estiveram a olhar para si próprios ao espelho durante 10
minutos.
Em
menos de 1 minuto a olhar-se ao espelho, os voluntários começaram a ver o que
Caputo descreve como a “ilusão da face estranha”.
Os
participantes relataram ter visto enormes deformações dos seus próprios rostos,
os rostos de pais vivos ou falecidos, e imagens arquetípicas, como o rosto de
uma idosa, criança ou o retrato de um antepassado.
Alguns
dos participantes disseram ainda ter visto rostos de animais – como gatos,
porcos ou leões – e mesmo de seres fantásticos e monstruosos.
Porque
acontece este fenómeno?
O
estudo não traz respostas definitivas, mas é provável que o efeito tenha a ver
com a chamada adaptação neural, que descreve a forma como os nossos neurónios
podem abrandar ou mesmo interromper as suas respostas aos estímulos.
Isto
acontece quando olhamos para qualquer cena ou objecto durante um período
prolongado de tempo.
Durante
esse período, a nossa percepção começa a desvanecer-se, até piscarmos os olhos
ou a cena mudar.
Caputo levanta a hipótese de que estas alucinações, chamadas
“aparições de faces estranhas”, podem ser uma consequência do regresso à
“realidade” depois de se ter introduzido um estado dissociativo provocado pela
falta de estimulo sensorial.